Crônica do ensaio: chegada ou partida?
Dia desses fiz uma viagem longa de avião. Estava a noite e por essa razão não pude (como de costume) apreciar a paisagem pela janela da aeronave, uma vez que naquele momento eu só conseguia avistar pontinhos luminosos pelo chão. Confesso que em dias de céu azul, voar me causa um intenso prazer quando percebo que olhando lá de cima o mundo parece bonito e seguro.
Voltando a minha viagem noturna, depois de um início tranqüilo começo a ver clarões, nuvens carregadas e muita água pela janela. No corredor, a luzinha vermelha dos comissários acende com seu indefectível som e percebo que mergulhamos em uma turbulência de arrepiar.
O avião era chacoalhado para direita e para a esquerda, além de balançar bastante. Certamente é a mesma sensação de quem está dentro de um carro em uma estrada de terra muito esburacada. O vento parecia se incomodar com a nossa presença nos céus e nos empurrava com “tapas” que faziam barulho na estrutura do avião.
Dentro, eu procurava me distrair lendo uma revista e procurando idosos e criancinhas pelas poltronas do avião. Sim, porque sempre acreditei que Deus não derruba aviões cheios de “pessoas” indefesas. Avião com celebridade dificilmente cai também! Mas no meu vôo não tinha ninguém famoso. Nessa altura (com pequenos intervalos, a turbulência se estendia por mais de 40 minutos) e eu já nem sabia onde colocava as mãos. A única criança dentro do avião, se divertia com o balanço e ria de tudo. Então tive um acesso existencialista e comecei a pensar e repensar a minha própria vida. E se tudo acabasse agora? Teria valido a pena? Realizei tudo que gostaria de realizar? Cumpri minha missão? E a resposta causou ainda mais turbulência: NÃO!
Não é que eu morreria infeliz. Afinal, já me diverti muito em relação a idade que tenho. A verdade é que não morreria satisfeito. Isso sim! Partiria incomodado porque existem tantas coisas para serem feitas e vividas, lugares nunca visitados, pessoas especiais, que na minha opinião seria na falta de uma melhor palavra: injusto uma partida precoce, mesmo que tudo tenha uma razão de ser.
Comecei então a pensar em grandes pessoas, em grandes nomes que viveram ou vivem de forma longeva como: Ivo Pitanguy, Antônio Ermírio de Moraes e os falecidos Roberto Marinho, Carlos Drumond de Andrade e Paulo Autran. Todos acima dos 80 anos. Não que eu estivesse me comparando com estas figuras únicas e especiais, é que eu estava pensando apenas no melhor ser humano que eu poderia me transformar caso nada acontecesse, e claro, acabei me espelhando no que existe e existiu de melhor.
Enquanto o avião balançava, eu continuei pensando: “e se a vida fosse um longa-metragem, que nome eu daria ao meu filme?” Embora estivesse no meio de uma grande turbulência a resposta me veio clara e transparente, meu filme se chamaria: “Ensaio”. Porque sinto que ainda estou ensaiando para estrear no papel principal da vida: aqueles momentos onde alcançamos grandes realizações, conquistas e consequentemente, experimentamos uma felicidade até então desconhecida.
Na seqüência, me perguntei: é possível interromper um ensaio?! Se você não ensaiar, você não acerta. Concluí o seguinte: um ensaio só é interrompido se o “diretor” da peça julgar que você precisa desempenhar outras funções e te convocar para uma “conversa”, uma mudança de direção. Se for por desejo do “diretor”, a peça pode ser interrompida.
Pensando dessa forma, relaxei dentro do avião e soltei as mãos do encosto da poltrona que quase arranquei, enquanto balançavamos incessantemente. Não que o medo de partir tivesse ido embora. Nesse quesito, eu concordo com uma declaração do Cazuza, em dezembro de 1988, na TV Bandeirantes, extinto programa CARA a CARA com a Marília Gabriela, ele no auge de sua criação e já com os traços físicos que denunciavam o mal que lhe consumia. Depois de uma longa crise pulmonar em Boston e 15 dias em coma, Cazuza revelou na entrevista:
“Depois da crise, não é que eu não tenha mais medo de morrer. O medo de morrer é básico! Mas é que eu gosto tanto de estar vivo, que eu acho que morrer vai ser um desperdício”.
Depois da turbulência, não é que eu tenha mais medo de partir! Mas eu estou há tanto tempo ensaiando, que eu acho que uma conversa agora com o “diretor” seria um desperdício: de tempo, de energia e de vida.
O que eu posso dizer, é que o avião chegou em seu destino, eu tive dias maravilhosos, voltei pra casa com ainda mais energia para continuar ensaiando, já que a estréia da peça se anuncia cada vez mais próxima. E claro, depois de toda essa turbulência (inclusive existencial) algo ficou mais claro: o objetivo não é ser o melhor de todos, e sim, o melhor ser humano que eu puder me transformar. Escrever esta crônica dividindo medos e anseios acreditem, foi um tremendo exercício de crescimento e evolução.
Dia desses fiz uma viagem longa de avião. Estava a noite e por essa razão não pude (como de costume) apreciar a paisagem pela janela da aeronave, uma vez que naquele momento eu só conseguia avistar pontinhos luminosos pelo chão. Confesso que em dias de céu azul, voar me causa um intenso prazer quando percebo que olhando lá de cima o mundo parece bonito e seguro.
Voltando a minha viagem noturna, depois de um início tranqüilo começo a ver clarões, nuvens carregadas e muita água pela janela. No corredor, a luzinha vermelha dos comissários acende com seu indefectível som e percebo que mergulhamos em uma turbulência de arrepiar.
O avião era chacoalhado para direita e para a esquerda, além de balançar bastante. Certamente é a mesma sensação de quem está dentro de um carro em uma estrada de terra muito esburacada. O vento parecia se incomodar com a nossa presença nos céus e nos empurrava com “tapas” que faziam barulho na estrutura do avião.
Dentro, eu procurava me distrair lendo uma revista e procurando idosos e criancinhas pelas poltronas do avião. Sim, porque sempre acreditei que Deus não derruba aviões cheios de “pessoas” indefesas. Avião com celebridade dificilmente cai também! Mas no meu vôo não tinha ninguém famoso. Nessa altura (com pequenos intervalos, a turbulência se estendia por mais de 40 minutos) e eu já nem sabia onde colocava as mãos. A única criança dentro do avião, se divertia com o balanço e ria de tudo. Então tive um acesso existencialista e comecei a pensar e repensar a minha própria vida. E se tudo acabasse agora? Teria valido a pena? Realizei tudo que gostaria de realizar? Cumpri minha missão? E a resposta causou ainda mais turbulência: NÃO!
Não é que eu morreria infeliz. Afinal, já me diverti muito em relação a idade que tenho. A verdade é que não morreria satisfeito. Isso sim! Partiria incomodado porque existem tantas coisas para serem feitas e vividas, lugares nunca visitados, pessoas especiais, que na minha opinião seria na falta de uma melhor palavra: injusto uma partida precoce, mesmo que tudo tenha uma razão de ser.
Comecei então a pensar em grandes pessoas, em grandes nomes que viveram ou vivem de forma longeva como: Ivo Pitanguy, Antônio Ermírio de Moraes e os falecidos Roberto Marinho, Carlos Drumond de Andrade e Paulo Autran. Todos acima dos 80 anos. Não que eu estivesse me comparando com estas figuras únicas e especiais, é que eu estava pensando apenas no melhor ser humano que eu poderia me transformar caso nada acontecesse, e claro, acabei me espelhando no que existe e existiu de melhor.
Enquanto o avião balançava, eu continuei pensando: “e se a vida fosse um longa-metragem, que nome eu daria ao meu filme?” Embora estivesse no meio de uma grande turbulência a resposta me veio clara e transparente, meu filme se chamaria: “Ensaio”. Porque sinto que ainda estou ensaiando para estrear no papel principal da vida: aqueles momentos onde alcançamos grandes realizações, conquistas e consequentemente, experimentamos uma felicidade até então desconhecida.
Na seqüência, me perguntei: é possível interromper um ensaio?! Se você não ensaiar, você não acerta. Concluí o seguinte: um ensaio só é interrompido se o “diretor” da peça julgar que você precisa desempenhar outras funções e te convocar para uma “conversa”, uma mudança de direção. Se for por desejo do “diretor”, a peça pode ser interrompida.
Pensando dessa forma, relaxei dentro do avião e soltei as mãos do encosto da poltrona que quase arranquei, enquanto balançavamos incessantemente. Não que o medo de partir tivesse ido embora. Nesse quesito, eu concordo com uma declaração do Cazuza, em dezembro de 1988, na TV Bandeirantes, extinto programa CARA a CARA com a Marília Gabriela, ele no auge de sua criação e já com os traços físicos que denunciavam o mal que lhe consumia. Depois de uma longa crise pulmonar em Boston e 15 dias em coma, Cazuza revelou na entrevista:
“Depois da crise, não é que eu não tenha mais medo de morrer. O medo de morrer é básico! Mas é que eu gosto tanto de estar vivo, que eu acho que morrer vai ser um desperdício”.
Depois da turbulência, não é que eu tenha mais medo de partir! Mas eu estou há tanto tempo ensaiando, que eu acho que uma conversa agora com o “diretor” seria um desperdício: de tempo, de energia e de vida.
O que eu posso dizer, é que o avião chegou em seu destino, eu tive dias maravilhosos, voltei pra casa com ainda mais energia para continuar ensaiando, já que a estréia da peça se anuncia cada vez mais próxima. E claro, depois de toda essa turbulência (inclusive existencial) algo ficou mais claro: o objetivo não é ser o melhor de todos, e sim, o melhor ser humano que eu puder me transformar. Escrever esta crônica dividindo medos e anseios acreditem, foi um tremendo exercício de crescimento e evolução.
Bjota
Bacana sua crônica Bjota.
ResponderExcluirParabéns pelos textos...não tinha lido sobre 'crianças e idosos em avião' hehe agora, os procurarei sempre pois, tenho um medo de viagens longas rs.
Abraço.
kkkkkkk!!! só embarco agora em voos com idosos e crianças. beijos
ResponderExcluirNOSSA bruninho, sem palavras!! linda é pouco pra ela. AMEI. Realista, profunda, traz à tona um questionamento existencial!! Tocou-me, fazendo pensar na minha e acredito que sua crônica, talvez se objetive em suscitar reflexões em massa!PARABENS, É UM TALENTO!beijooo
ResponderExcluirIsso tudo me fez pensar em tanta coisa que nem sei dizer. Bora conversar sobre isso pessoalmente?? rs... Beijão!!
ResponderExcluirAdorei a crônica! E achei o máximo pensar em um nome para o filme da nossa vida. Por 15 seg pensei um nome pro meu e não achei. Coisa para se pensar com calma.
ResponderExcluirBacana mesmo o txt!
" Amorr , voltando agora aí de Barcelona sentei perto de duas criancinhas ( que choravam o dia todo ,nem me importei kkkk ).Depois dessa crônica, quero mais é ser Baba e Cuidadora de Velhinhos para viagens !!! Ui !!! Bjosss e Deus te abençõe sempre ! Bjosssssssss
ResponderExcluirMamãe Scheila ( vulgo Lucinha ) rs