quarta-feira, 25 de março de 2009

Mulheres



"Belas mulheres são como antigas esculturas: você nunca vai desfrutar delas, senão parar de tentar entendê-las" Freddie Mercury

Mercury


É curioso e instigante perceber o quanto a vida é imprevísivel! Freddie Mercury foi um dos cantores e performers mais andróginos da história do rock mundial e ainda sim criou um dos pensamentos mais originais e sinceros sobre a essência feminina. Bissexual assumido, Freddie teve mulheres, mas os homens foram bastante numerosos. Dono da voz mais poderosa e marcante dos últimos 30 anos desde o falecimento de Elvis, Freddie ainda era um compositor de mão cheia, um artista incrivelmente talentoso e com seu incontestável carisma reinou abosluto nos palcos mundo afora, nas décadas de 70 e 80 ao lado de Brian, Roger e Deacon seus companheiros no Queen. Por seus amigos e colegas, Freddie Mercury é lembrado como um espírito livre, criativo, generoso, cheio de energia, talento e excelente senso de humor. Por nós, ele será sempre lembrado pela soma de todas essas qualidades expressa em música: Bohemian Rhapsody, Love of my Life, We are the Champions, Crazy Little Thing Called Love, Sombody to Love....

sábado, 21 de março de 2009

Seria


O Bonsai é o símbolo de paz e harmonia que o oriente trouxe para o resto do mundo. Dentro da sabedoria japonesa, a constituição do Bonsai com seu desenho sinuoso e agradável oferece aos nossos olhos a sensação de bem estar e felicidade, a que universalmente chamamos: harmonia. Como qualquer árvore o Bonsai precisa de cuidados e atenção para que mantenha saudável a sua essência. Na verdade podemos dizer que a simbologia do Bonsai se identifica com a fragilidade e a beleza da vida humana.

A idéia é que ao se levantar da cama, as pessoas se deparem com o Bonsai e lembrem-se de tratá-lo com carinho, atenção, regando suas folhas, podando seus excessos e parasitas para preservar sua beleza e harmonia. O interessante é que a nobre iniciativa de cuidar do Bonsai deixa de ser um passa-tempo e acaba nos distanciando dos nossos próprios problemas e de tudo que em nossa vida também precisa ser podado, irrigado e cuidado.

Hoje em dia os excessos acontecem naturalmente: o excesso de trabalho, de alimentação ruim, de desculpas, de vaidade, solidão, excesso da falta de amor, excesso da falta de iniciativa em transformar todo excesso em energia positiva, em equilíbrio. Porque equilíbrio é o segredo do sucesso.

Seria tão saudável esquecer momentaneamente os Bonsais, os gatinhos e cachorros de estimação, o relatório do trabalho, a prova da faculdade, o problema do vizinho. Esquecer de tudo isso e acordar para os mecanismos que seu cérebro usa como fuga e que fazem você cuidar dos outros, no lugar de concentrar-se em você mesmo. Afinal, todo mundo merece ser feliz e a felicidade dentro de uma perspectiva mais simples, é fazer por onde. Este texto não é de auto-ajuda e nem tenta simplificar os problemas de cada um. Não mesmo! Apenas constata: se existe movimento, se existe comprometimento, as coisas acontecem, o universo conspira a favor. Ops e daí você pensa: esse cara acha que é um guru? E eu respondo novamente: não mesmo!

O problema é que movimentar a vida em busca da felicidade e harmonia é tão simples e óbvio, que acaba não sendo evidente. Que tal resolver hoje os problemas que poderiam ser empurrados para amanhã? O que é isso? Um pensamento. Perceba que traduzir em atitude o pensamento é o começo de tudo, o começo do movimento. Espero que daqui para frente exista movimento em todos os meus dias. Seria tão bom....



SERIA...

Que bom seria
Se fosse mais fácil conduzir a vida
Se todo dia não tivessem tantas perguntas
Para serem respondidas
Se fosse deitar e amanhecer
Não se preocupando por quê

Bom seria
Se fosse diferente todo dia
Longe da monotonia
Chorar por alegria
Sorrir diante da melancolia
Certo de que ela passa
Tudo passa um dia

Que bom seria
Se a nossa vontade
Não fosse apenas sonho
Acontecesse de verdade

Seria tão bom
Viver a vida que a gente não vive
Esquecer da tristeza que insiste

Que bom seria
Se tudo deixasse de ser e fosse
Barriga cheia
Cabeça feita...

Se tudo fosse de verdade e não de imaginação
Ver a chuva dentro de casa
Andar na rua sem muita preocupação


Que bom seria
Se achar quem te completa
Não fosse ingrata tarefa
De ser achado e não ter que achar

Que bom seria
Se toda saudade fosse feita de sorrisos
E não de lágrimas

Que bom seria
Se tudo fosse
E há de ser um dia...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Samba no pé

Uma homenagem a todos que como eu apreciam este ritmo genuinamente brasileiro, mas que não gostam de se comprometer nas rodas de sambas espalhadas pelo Brasil afora...



SAMBA NO PÉ

Quem pensa que samba é só batucar
Balançar o pé ... se engana
Samba tá no sangue
Até de quem não balança

Eu traço o mapa do samba
Sem balançar a cadeira
Corre na veia, meu camarada

E quem é que vai me dizer
Se o samba tá no pé
No batuque da mesa
Na liberdade de ser
O que se é?

Samba não tem dono ...
É bicho solto, malandro!
Carioca, paulista, mineiro
Não tem essa prosa, meu amigo
É totalmente brasileiro

Samba não tem raça, não tem jeito
Sambo parado, sem gingado
Mas balanço a cabeça
E grito consciente na roda
Samba é a raiz da identidade
Branca, negra, brasileira

Nêgo, por isso te deixo um recado
Aqui no terreiro
Quem pensa que samba é só batucar
Balançar o pé ... se engana
Samba tá no sangue
Até de quem não balança

segunda-feira, 16 de março de 2009

Nota 10



Alguém sabe me dizer porque o número 10 tem tanto valor? Pelé eternizou a camisa 10 dos clubes e seleções em seus 20 anos de carreira, marcando 1.284 gols. Ganhou tudo que foi possível e transformou o “10” em sinônimo de qualidade, eficiência e diferencial. É uma resposta razoável? Você já percebeu o quanto todo mundo comemora ou se lembra com carinho dos: 10 anos de formado, 10 anos de casamento, 10 anos de empresa (alguém ainda permanece 10 anos na mesma empresa)? Meu filho é nota 10 e assim por diante.

Mas e você, o que estava fazendo em fins de 1998 e início de 1999? Há 10 anos atrás tínhamos na agenda do planeta: o Brasil ainda de rebordose pela surra que levou da França na final da copa de 1998, tínhamos o BUG do milênio que já assombrava as empresas e governos, o eclipse lunar de 1999 que acabaria com o mundo, o Brasil sofria o primeiro blecaute de sua história, eu tinha acabado de passar no vestibular e uma banda de rock varria os Estados Unidos com seu disco de estréia: New Radicals.

Seu vocalista, produtor e principal letrista Greg Alexander foi responsável por criar um dos maiores hits da década de 90: you get what you give. O disco de nome “Maybe you´ve been brainwashed too” além de contar com outras grandes canções, tinha como ponto forte o timbre agudo e envolvente de Alexander. Se você fechar os olhos em algumas músicas do disco vai achar que Mick Jagger mudou de banda.

O disco foi muito bem recebido pela crítica nos Estados Unidos e alcançou o surpreendente quinto lugar na parada britânica. Um tremendo estouro para um disco de estréia. A banda ainda contava com a bela e sensual atriz Danielle Brisebois que fez backing vocals em algumas músicas e co-escreveu, junto com Alexander, o single "Someday We'll Know". Você pode ver Danielle no clipe original dessa música, atrás de Greg tocando percussão e fulminando a câmera com um olhar sedutor. Esse mega hit encantou a crítica americana pela poesia e lirismo da letra que faz referências ao amor eterno, cinema, e até mesmo fatos bíblicos e da história recém moderna como o desaparecimento de Emily Ehart, primeira mulher a cruzar o oceano atlântico de avião. Entretanto exausto pela turnê de lançamento do disco, Greg Alexander literalmente chutou o pau da barraca e encerrou as atividades da banda, tornando-se ainda um produtor de sucesso. É produção dele o hit “The game of love” de Carlos Santana e Michelle Branch.

Aqui no Brasil “Some day we´ll know” poderia ter sido composta por Arnaldo Antunes, Renato Russo ou Cazuza. Na Inglaterra David Bowie poderia facilmente ter escrito a letra em função do seu reconhecido talento para usar metáforas. Mas foi Greg Alexander que roubou a cena compondo uma das maiores baladas dos anos 90. Nada mais justo que uma singela homenagem aos 10 anos, dessa música nota 10, de uma banda 10, que infelizmente durou muito menos do que uma década e deixou o cenário pop/rock bem menos interessante. Será que “algum dia nós vamos saber” porque essas coisas acontecem?
OBS: a versão postada aqui e com tradução em português, embora fiel não é a da banda. Recomendo a versão original do New Radicals disponível no youtube e também legendada em português, mas esta versão não pode ser anexada em blog´s.

Saber amar


Tantas pessoas talentosas, criativas, vividas, bem e mal amadas escreveram sobre o amor e ainda sim ninguém conseguiu chegar a um consenso. Talvez isso aconteça porque não exista um ponto em comum sobre este assunto. O amor é um sentimento universal, mas forma como você o sente é demasiadamente particular. É sua e ponto final. Alguns tem menos resistência para vivê-lo, outros o enxergam como um obstáculo quase intransponível. Em se tratando de amor é bem verdade que um pouco de cautela não faz mal a ninguém. Não precisa estufar o peito e se atirar ao sentimento como quem bebe uma garrafa de água no deserto africano. Assim você pode engasgar e a tosse que o amor deixa na garganta pode permanecer por tempo indeterminado impedindo você de dizer eu te amo. O ideal é não confundir cautela com medo. Porque o medo limita e impede que a gente avance, veja a realidade como ela é.

Freud, Drumond, Nietzsche, Lennon, Chico e Caetano não conseguiram decifrar o amor então não será este texto que vai atingir tal proeza. Nem eles, nem eu e você vamos conseguir. Aliás o melhor que temos a fazer é parar! Vamos parar de tentar decifrar o amor, porque o amor foi feito para ser vivido e nem tudo que a gente vive é compreendido. É necessário legenda pra saber que quando seu cachorro de estimação late e abana o rabo para você ele quer dizer: eu te amo? Amar é viver intensamente o sentimento, seja por quem for. É simples assim e gastar energia tentando entendê-lo é perda de tempo, é desperdício. Além do mais, desperdiçar qualquer coisa é politicamente incorreto hoje em dia.

Eu particularmente passei muito tempo com uma calculadora na cabeça, computando se com uma pitada de “gostar” e muito de “paixão” eu já estaria amando. E o resultado? Eu nunca acertei os cálculos! A matemática do amor não é exata. Pelo menos eu sempre compreendi que errar é humano, por isso digo: Permitam-se! Errem e acertem porque ninguém nasce sabendo como é que se faz. Se assim fosse, cada um de nós seria como Benjamin Button. Aquele mesmo que Brad Pitt interpretou no cinema. Todo mundo nasceria sabendo como se portar diante dos fatos. Mas a vida é muito maior do que o roteiro de um filme chato, previsível e sem direito a oscar algum.

Usar um tom confessional nos textos é sempre muito complicado, mas a vida não é simples e eu confesso: em matéria de amor eu errei muito. Muito mesmo! Com os desacertos aprendi muitas lições. Estou melhorando e evoluir é não cometer as mesmas falhas do passado, por isso desejo ardentemente que a vida me aplique outros e outros “testes”. Quem não quer uma segunda, terceira, quarta chance? E que fique claro: o objetivo não é acertar, o importante é dar o melhor de si porque não tenham dúvidas: amar é se despedir de qualquer certeza...
Fico acima de tudo com Herbert Vianna que escreveu:
“Saber amar, é saber deixar alguém te amar”

Retórica do peito

Essa poesia ilustra muito bem parte do texto: "Saber amar". Muitas vezes deixamos que a eterna briga entre cabeça e coração prevaleça, quando na verdade razão e sentimento devem se ajudar. Devem entender que um depende do outro para ser feliz!





RETÓRICA DO PEITO

Toda vez que você está longe
Leva pra longe, pra não sei onde
O que eu custei pra acreditar
E o meu peito ameaça:
“Cuidado, esse negócio de sentimento não é para você”

Toda vez que você some
Some junto, o que eu costumo não aceitar
Surge um aperto aqui por dentro
É o meu peito dizendo:
“Agora senti na pele, do que a saudade é capaz”

Toda vez que você parte
Parte ao meio
O que eu custei pra juntar!
Meu peito logo avisa:
“O que ela precisa, não é assim tão difícil de dar”

Toda vez que você fica
Fica assim, o meu mundo com um gosto de paz ...
É o peito entregando, o que eu insisto em negar!
“O amor é ação contrária, não se vê com os olhos da cara”

Toda vez que você volta
Traz de volta o que eu prefiro ocultar
E o peito logo grita:
“Não seja inocente, aceita esse presente
Que é pro seu e o meu bem”.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Balada da Insônia


Essa letra é dedicada a todos que como eu são seres lunares! A todos que nos dias de lua cheia (isso mesmo, afinal com tanta luz a noite passa a ser dia) não conseguem olhar pro céu sem procurá-la. Fonte de inspiração, de luz, encantamento e tesão! A essa energia clara e oculta que acelara o corpo e insiste em acordar os pensamentos!



BALADA DA INSÔNIA

Tem noites que o sono
Vira um bloco de gelo
Endurecendo de pouco a pouco
O raso e o fundo do peito

Quando a insônia penetra
A gente desperta para eternas perguntas
Será que o céu da noite é preto
Ou azul escuro?
E o destino do amor, por favor
É ser calmo ou tenso?

E pelas grades da janela
A insônia faz companhia
Liberta o pensamento
Instiga a procura
Pelos detalhes da lua (Nova, cheia ou imensa)
Pelo cheiro da noite
Ou o gosto da chuva
Pelo sentimento mais reluzente
Um procurado que se esconde

Insônia ingrata companhia
Solta pela janela
Um abraço que congela
Até lágrima escorrida

E não tem arma
Que me proteja
É doença sem cura
Querer entender
Em apenas uma noite
Tudo que o coração confabula
"Versos sem rima"


Na literatura como em quase tudo na vida, a gente tem uma certa tendência a gostar "por identificação". Das cores aos carros, passando pelos livros/autores, músicas, roupas, enfim. É importante ressaltar que o gosto de cada um é uma tradução muito particular de seus desejos pessoais, porque o que é admiravelmente bonito para mim, pode soar agressivo aos seus olhos ou ouvidos. Que assim seja, imagina o tédio que viveríamos se as 6 bilhões de pessoas deste planeta concordassem em tudo? Melhor nem imaginar porque o pensamento constrói, edifica, têm poder.


Voltando aos gostos e desejos, eu comecei a perceber que na infância você pode se indentificar com o time que seus pais torcem; pode gostar muito do azul, se o azul for a cor do carro que o papai tem na garagem. No primário você pode ser apaixonar pela coleguinha que senta ao lado porque os cachos dela teimam em se parecer com os cabelos da sua mãe; pode aprender a gostar de motos já que o vizinho apareceu com um modelo que você nem mesmo sabe o nome, mas sabe dizer que é linda! Você pode gostar do que for, desde que haja indentificação com a personalidade que brota dentro de você. É natural que a identificação nasça da influência de pessoas próximas a gente. E se não for dessa forma, a gente cria a identificação usando, é claro, os nossos próprios gostos. Não é disso que estamos falando?

Na literatura por exemplo, meu "pai" foi Carlos, o Drumonde de Andrade. O poeta assinava com o coração e falando em coração, ele foi um grande cúpido. Me apresentou à minha primeira grande paixão: a poesia. Mais tarde ouvindo, lendo e porque não, cantando Cazuza descobri que a gente não precisa ser intelectual, não é necessário saber o nome da capital da Ucrânia (que por sinal é Kiev) pra ser poeta. Basta estar vivo e enxergar o mundo com os olhos do coração. Aprendi a lição Cazuziana e como ele me lancei de forma "exagerada" aos versos. Pra "gente" é tudo ou nunca mais....

Já quase adulto li "Em cima da rua" e me transformei na primeira pessoa a ter uma "terceira avó". O nome dela? Cora, provinciana, goiana, humana, Coralina. Me identifiquei com a capacidade de Cora universalizar sua individualidade, seus sentimentos e anseios, dúvidas e amores que além de serem goianos e provincianos, eram sobretudo humanos. Assim como os meus e os seus. Então de tempos em tempos pedia "benção" em seus livros e devorava páginas e páginas como o netinho que devora a broa de fubá da vovó! E de broa em broa percebi que a vovó também tinha os seus questionamentos, assim como eu que ainda acordava pra vida. E vovó um dia em uma entrevista na TV com sua voz doce e embargada exclamou: "Ué. Porque a gente não pode libertar o verso da rima!!? Pode libertar sim. Poesia não é uma prisão".

E eu pensei: "poxa...mesmo na TV, vovó dá um jeito de falar comigo. Isso sim é identificação".
Sempre acreditei que na poesia pode tudo, inclusive libertar o verso da rima! Não tem regra, conduta, manual de instrução. Aliás, tem sim. Siga sempre o pulsar, os batimentos do coração. E quando você sentir aquele aperto ou solavanco no peito, pode acreditar: o verso está pronto! Me identifiquei tanto com minha "terceira avó" que criei em seguida, quase que instantaneamente: "Verso sem rima" a poesia que dá título ao blog. E depois de tantos e tantos anos continuo acreditando que "o verso libertado da rima, é como a vida que não se prende à razão".

VERSO SEM RIMA

De que vale se sentir
Assim tão especial?
Se o lado esquerdo do peito
Mais parece um astro a vagar pelo espaço sideral ...

A métrica da minha rima
Não se liberta da solidão
Eterna companhia
Nos dias frios ou quentes de verão

Porque não libertar o verso da rima?
Fazer como a vida que não se prende a razão
No amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração

Vou instaurar um inquérito
Pra desvendar a alma e seus mistérios
Mas meu coração não custa caro
Se você me subornar oferecendo colo
Pode até me corromper
Baby eu arquivo o processo
Por debaixo dos seus beijos
E não entrego você

Na verdade a mentira
É o melhor disfarce
Para um coração triste e mal amado
Você mente dizendo: “Eu te quero“
E eu minto dizendo: “Obrigado”!

Porque não libertar o verso da rima?
Pode parecer beleza sem simetria
Sexo sem paixão
Mas no amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração ...

Artigo: Desarmamento




Desarmamento: munição para essa iniciativa

Avaliando historicamente o desejo do ser humano em se armar remonta ao próprio surgimento do milenar homo sapiens. Ao refletirmos sobre tal tendência, chegamos a conclusão de que essa realidade foi concebida justamente para que o ser humano pudesse preservar sua própria existência, haja vista que os humanóides daquele período desenvolveram seu coeficiente intelectual de maneira acentuada em relação à maioria dos demais componentes do reino animal, que por sua vez foram “armados” com uma estrutura física melhor preparada para os embates da cruel luta pela sobrevivência.

Muito longe de possuir uma genética privilegiada, mas cada vez mais ciente de sua capacidade intelectual, o ser humano se viu obrigado de alguma maneira a desenvolver uma forma mais eficiente de abater suas presas, ou mesmo de se proteger para que ele mesmo não se tornasse alimento. O interessante é perceber que em meio a essa “guerra” nossos ancestrais criaram as armas de fogo para preservar sua própria vida e de seus semelhantes, sem saber que todos nós seríamos vítimas dessa fundamental iniciativa, uma necessidade clara de acompanhar a evolução do planeta.

Por todas essas confabulações históricas e outras tantas, é que se torna desesperador assistir a degradação de um alguém que foi traído por sua privilegiada capacidade intelectual aliada à sua incapacidade de conviver com o próximo. Outrora certo poeta indagou: “Que tempo é esse? Matar por pura diversão, todo amor parece em vão. Branco, negro, amarelo... Cada macaco no seu galho?”.

Como não se indignar com essa certeira colocação, como admitir passivamente a intolerância humana, se a identidade do planeta e, inserido nele, o Brasil, foi constituída ao longo da história, justamente por sua notável variedade de cores, raças, credos, religiões, opiniões e estilos? Já que a vida é um direito inalienável, a quem foi dado o direito de acabar com a vida de outrém?

Que me perdoem as famílias que tiveram suas vidas tingidas pelo vermelho da violência! Mas ao adquirir uma arma, o indivíduo está a um passo de se tornar um criminoso, usando como subterfúgio o ódio, raiva, vingança e rancor. Todos sentimentos que embrutecem o homem e retiram dele exatamente o que o torna especial neste mundo: sua capacidade de racionalizar.

Aos que adquirem uma arma com a alegação de legítima defesa, defendem uma tese sem fundamentação, uma vez que a defesa deve ser pela solidariedade, uma ação que se configura em respeitar e valorizar as diferenças. O que deve ser feito, é a defesa do diálogo e pacificação do ser humano através da palavra. A mesma palavra que distancia e aproxima, que soluciona e complica, que fere sim, mas não mata!

As pessoas que estão à margem ou inseridos na sociedade, não podem argumentar a aquisição de uma arma como “necessidade de proteção” para justificar tal ato. Segurança não é uma função do indivíduo, mas sim do Estado, por mais falho que ele seja.

Na verdade, o que falta ao ser humano, independente de sua nacionalidade ou condição social, é muito de civilidade, sobriedade e sensatez. Características que só se desenvolverão no âmago do cidadão, através da educação e da cultura. Por isso, é pelo desarmamento que devemos lutar. Imbuídos de um espírito revolucionário, mas em nada agressivo. Devemos sim fornecer munição para essa iniciativa. Uma batalha sem armas, sem mortos e feridos. Mas com um único vencedor: a nação!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Criança Dinamite



A sinceridade de dizer tudo que pensa usando a verdade como suporte, é uma dinamite que explode as mais consistentes vigas e pilares, mas me pergunto: onde se esconde essa sinceridade? Ela mora apenas e confortavelmente na cabeça de toda criança. Independentemente de sua cor, raça ou religião. Meninos e meninas se põem a brincar com negros, brancos, amarelos, ricos e pobres. Feliz é toda criança, uma dinamite capaz de implodir valores e conceitos de uma sociedade que avalia as pessoas por sua aparência, e não por sua natureza.

Nasceu no seio do Rio de Janeiro (talvez a mais brasileira das cidades brasileiras) um menino de nome Agenor e codinome Cazuza, uma dinamite que estourou, como todo o movimento do Rock Brasil, no início da década de 80. Jovem (talvez uma eterna criança), bonito, rico são adjetivos que lhe caem muito bem, mas estão muito longe de qualificá-lo. Desde a primeira obra o menino Cazuza se impôs como um letrista que assina com as vísceras. O talento, guardou na gaveta até conhecer Frejat, guitarrista-irmão dos tempos do Barão Vermelho e parceiro de sempre. Aí as letras ganharam música, encontraram o caminho da rua, o menino então cantou para os nossos ouvidos com o despudor de uma criança, daquelas que tocam nas feridas sem se preocupar com as conseqüências.

Uma capacidade ímpar de verbalizar a realidade de um país assolado pela mentira e hipocrisia. Quem melhor do que uma criança para apontar os erros infantis de uma nação? E como boa criança que foi, Cazuza não ousou mentir, como boa criança usou sua poesia como arma, para apontar as fraturas expostas de sua geração. Veio da BURGUESIA, mas não hesitou em dividir seus medos e anseios na busca de uma IDEOLOGIA pra viver. Como uma criança que não perdoa injustiça, Cazuza não perdoou o BRASIL, sua “pátria amada e desimportante”, em suas letras. Usando claro, como contraponto a esperança, brincou de amar e viver a VIDA sem culpas nem morais. Sem se importar em ser descoberto, rezou um BLUES DA PIEDADE, para todos que diferente dele não tiveram grandeza e coragem. Cazuza adoeceu e como uma criança, não quis se enclausurar, como uma criança quis continuar a brincar de viver, de compor, de amar... de existir. Como um moleque teve a coragem de “mostrar sua cara” diante dos fatos. E quem é que pode dizer quais foram seus erros? Quem nunca errou que atire a primeira pedra!

Cazuza se rebelou contra morte. Com a rebeldia de uma criança, que não se sente bem em seguir todas as regras, enganou-a, fintou-a, sabia que ainda não era sua hora. Entretanto, o destino pregou-lhe uma peça. Levou-o para longe justamente por causa de um de seus maiores talentos... o de ser EXAGERADO na hora de amar. A criança dinamite se foi, mas a grandiosidade de seu trabalho permanece, porque ... o tempo... O TEMPO NÃO PÁRA.
Homenagem aos 51 anos de Cazuza, que seriam completados em 04/04/2009.