"Versos sem rima"
Na literatura como em quase tudo na vida, a gente tem uma certa tendência a gostar "por identificação". Das cores aos carros, passando pelos livros/autores, músicas, roupas, enfim. É importante ressaltar que o gosto de cada um é uma tradução muito particular de seus desejos pessoais, porque o que é admiravelmente bonito para mim, pode soar agressivo aos seus olhos ou ouvidos. Que assim seja, imagina o tédio que viveríamos se as 6 bilhões de pessoas deste planeta concordassem em tudo? Melhor nem imaginar porque o pensamento constrói, edifica, têm poder.
Voltando aos gostos e desejos, eu comecei a perceber que na infância você pode se indentificar com o time que seus pais torcem; pode gostar muito do azul, se o azul for a cor do carro que o papai tem na garagem. No primário você pode ser apaixonar pela coleguinha que senta ao lado porque os cachos dela teimam em se parecer com os cabelos da sua mãe; pode aprender a gostar de motos já que o vizinho apareceu com um modelo que você nem mesmo sabe o nome, mas sabe dizer que é linda! Você pode gostar do que for, desde que haja indentificação com a personalidade que brota dentro de você. É natural que a identificação nasça da influência de pessoas próximas a gente. E se não for dessa forma, a gente cria a identificação usando, é claro, os nossos próprios gostos. Não é disso que estamos falando?
Na literatura por exemplo, meu "pai" foi Carlos, o Drumonde de Andrade. O poeta assinava com o coração e falando em coração, ele foi um grande cúpido. Me apresentou à minha primeira grande paixão: a poesia. Mais tarde ouvindo, lendo e porque não, cantando Cazuza descobri que a gente não precisa ser intelectual, não é necessário saber o nome da capital da Ucrânia (que por sinal é Kiev) pra ser poeta. Basta estar vivo e enxergar o mundo com os olhos do coração. Aprendi a lição Cazuziana e como ele me lancei de forma "exagerada" aos versos. Pra "gente" é tudo ou nunca mais....
Já quase adulto li "Em cima da rua" e me transformei na primeira pessoa a ter uma "terceira avó". O nome dela? Cora, provinciana, goiana, humana, Coralina. Me identifiquei com a capacidade de Cora universalizar sua individualidade, seus sentimentos e anseios, dúvidas e amores que além de serem goianos e provincianos, eram sobretudo humanos. Assim como os meus e os seus. Então de tempos em tempos pedia "benção" em seus livros e devorava páginas e páginas como o netinho que devora a broa de fubá da vovó! E de broa em broa percebi que a vovó também tinha os seus questionamentos, assim como eu que ainda acordava pra vida. E vovó um dia em uma entrevista na TV com sua voz doce e embargada exclamou: "Ué. Porque a gente não pode libertar o verso da rima!!? Pode libertar sim. Poesia não é uma prisão".
E eu pensei: "poxa...mesmo na TV, vovó dá um jeito de falar comigo. Isso sim é identificação".
Sempre acreditei que na poesia pode tudo, inclusive libertar o verso da rima! Não tem regra, conduta, manual de instrução. Aliás, tem sim. Siga sempre o pulsar, os batimentos do coração. E quando você sentir aquele aperto ou solavanco no peito, pode acreditar: o verso está pronto! Me identifiquei tanto com minha "terceira avó" que criei em seguida, quase que instantaneamente: "Verso sem rima" a poesia que dá título ao blog. E depois de tantos e tantos anos continuo acreditando que "o verso libertado da rima, é como a vida que não se prende à razão".
VERSO SEM RIMA
De que vale se sentir
Assim tão especial?
Se o lado esquerdo do peito
Mais parece um astro a vagar pelo espaço sideral ...
A métrica da minha rima
Não se liberta da solidão
Eterna companhia
Nos dias frios ou quentes de verão
Porque não libertar o verso da rima?
Fazer como a vida que não se prende a razão
No amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração
Vou instaurar um inquérito
Pra desvendar a alma e seus mistérios
Mas meu coração não custa caro
Se você me subornar oferecendo colo
Pode até me corromper
Baby eu arquivo o processo
Por debaixo dos seus beijos
E não entrego você
Na verdade a mentira
É o melhor disfarce
Para um coração triste e mal amado
Você mente dizendo: “Eu te quero“
E eu minto dizendo: “Obrigado”!
Porque não libertar o verso da rima?
Pode parecer beleza sem simetria
Sexo sem paixão
Mas no amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração ...
Na literatura como em quase tudo na vida, a gente tem uma certa tendência a gostar "por identificação". Das cores aos carros, passando pelos livros/autores, músicas, roupas, enfim. É importante ressaltar que o gosto de cada um é uma tradução muito particular de seus desejos pessoais, porque o que é admiravelmente bonito para mim, pode soar agressivo aos seus olhos ou ouvidos. Que assim seja, imagina o tédio que viveríamos se as 6 bilhões de pessoas deste planeta concordassem em tudo? Melhor nem imaginar porque o pensamento constrói, edifica, têm poder.
Voltando aos gostos e desejos, eu comecei a perceber que na infância você pode se indentificar com o time que seus pais torcem; pode gostar muito do azul, se o azul for a cor do carro que o papai tem na garagem. No primário você pode ser apaixonar pela coleguinha que senta ao lado porque os cachos dela teimam em se parecer com os cabelos da sua mãe; pode aprender a gostar de motos já que o vizinho apareceu com um modelo que você nem mesmo sabe o nome, mas sabe dizer que é linda! Você pode gostar do que for, desde que haja indentificação com a personalidade que brota dentro de você. É natural que a identificação nasça da influência de pessoas próximas a gente. E se não for dessa forma, a gente cria a identificação usando, é claro, os nossos próprios gostos. Não é disso que estamos falando?
Na literatura por exemplo, meu "pai" foi Carlos, o Drumonde de Andrade. O poeta assinava com o coração e falando em coração, ele foi um grande cúpido. Me apresentou à minha primeira grande paixão: a poesia. Mais tarde ouvindo, lendo e porque não, cantando Cazuza descobri que a gente não precisa ser intelectual, não é necessário saber o nome da capital da Ucrânia (que por sinal é Kiev) pra ser poeta. Basta estar vivo e enxergar o mundo com os olhos do coração. Aprendi a lição Cazuziana e como ele me lancei de forma "exagerada" aos versos. Pra "gente" é tudo ou nunca mais....
Já quase adulto li "Em cima da rua" e me transformei na primeira pessoa a ter uma "terceira avó". O nome dela? Cora, provinciana, goiana, humana, Coralina. Me identifiquei com a capacidade de Cora universalizar sua individualidade, seus sentimentos e anseios, dúvidas e amores que além de serem goianos e provincianos, eram sobretudo humanos. Assim como os meus e os seus. Então de tempos em tempos pedia "benção" em seus livros e devorava páginas e páginas como o netinho que devora a broa de fubá da vovó! E de broa em broa percebi que a vovó também tinha os seus questionamentos, assim como eu que ainda acordava pra vida. E vovó um dia em uma entrevista na TV com sua voz doce e embargada exclamou: "Ué. Porque a gente não pode libertar o verso da rima!!? Pode libertar sim. Poesia não é uma prisão".
E eu pensei: "poxa...mesmo na TV, vovó dá um jeito de falar comigo. Isso sim é identificação".
Sempre acreditei que na poesia pode tudo, inclusive libertar o verso da rima! Não tem regra, conduta, manual de instrução. Aliás, tem sim. Siga sempre o pulsar, os batimentos do coração. E quando você sentir aquele aperto ou solavanco no peito, pode acreditar: o verso está pronto! Me identifiquei tanto com minha "terceira avó" que criei em seguida, quase que instantaneamente: "Verso sem rima" a poesia que dá título ao blog. E depois de tantos e tantos anos continuo acreditando que "o verso libertado da rima, é como a vida que não se prende à razão".
VERSO SEM RIMA
De que vale se sentir
Assim tão especial?
Se o lado esquerdo do peito
Mais parece um astro a vagar pelo espaço sideral ...
A métrica da minha rima
Não se liberta da solidão
Eterna companhia
Nos dias frios ou quentes de verão
Porque não libertar o verso da rima?
Fazer como a vida que não se prende a razão
No amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração
Vou instaurar um inquérito
Pra desvendar a alma e seus mistérios
Mas meu coração não custa caro
Se você me subornar oferecendo colo
Pode até me corromper
Baby eu arquivo o processo
Por debaixo dos seus beijos
E não entrego você
Na verdade a mentira
É o melhor disfarce
Para um coração triste e mal amado
Você mente dizendo: “Eu te quero“
E eu minto dizendo: “Obrigado”!
Porque não libertar o verso da rima?
Pode parecer beleza sem simetria
Sexo sem paixão
Mas no amor nem tudo faz sentido
Essa é a mensagem do coração ...
um misto de estranheza, orgulho e surpresa... eu que muitas vezes delirava lendo os blogs alheios me pego sentindo uma alegria esfuziante. Como pode esse alguém ser do meu sangue? A beleza do real sentido do humano...
ResponderExcluirGracias Dios!
Segundo Adelia Prado: "Um céu estrelado vale a dor do mundo", concordo... O talento do Bruno vale tudo! Hasta luego! beijos Mônica
A história contada nesse post eu já conhecia... rs. Estava estranhando tantos textos em prosa nesse blog, sem suas poesias.
ResponderExcluirFez muito bem em inaugurá-lo com o Verso sem rima. É a minha preferida.
...e eu vou instaurar um outro inquerito...
ResponderExcluirangariar evidencias e concretizar provas...
a fim de te processar por muito amar...
a fim de te julgar pelo que queres desvendar sobre a alma e seus misterios...
e te senteciar por ser tão admirável espírito.
p.s. alguém irá recorrer?
Encantando pelas palavras! É emocionante saber que as palavras que saem da minha cabeça tocam mentes e corações. Vcs são meu COMBUSTÍVEL! Me alimentem por favor... sempre!
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